sábado, 20 de novembro de 2010

‘Dilma é uma fábula criada pela mente fantasiosa de LuLa Fontaine’

Por onde anda o único especialista em dilmês do mundo?, perguntaram nos últimos dias dezenas de leitores da coluna. Cadê o grande caçador de cretinices?, intrigaram-se outros tantos. Preparando-se para o retorno memorável, comprova o texto do jornalista Celso Arnaldo Araújo sobre o já histórico Discurso dos Três Porquinhos. Confira:
Dilma Rousseff é uma fábula. Criada pela mente fantasiosa de LuLa Fontaine ─ autor, entre outras fábulas, de “A Viagi de Marisa” ─ “A presidente que não sabia falar” inaugura uma nova corrente da ficção literária, que promove a aliança entre o imaginário e o horror trash — como se pode ver neste vídeo, apenas um trailer do longa-metragem com quatro anos de duração baseado nessa história, que estreia dia primeiro de janeiro.
A presidente inventada por LuLa Fontaine era um fenômeno — apesar de seus 62 anos, e embora, como consta, instruída pelos melhores tutores, parecia não ter completado a fase de aquisição plena de linguagem, em seus diversos níveis. Do mais coloquial ao mais imperial. Do pessoal ao protocolar. Não dominava nenhum, das primeiras às últimas palavras, do preâmbulo à moral da história.
Quando começava a se dirigir aos súditos, dos mais humildes aos mais ilustrados, tinha enorme dificuldade de dizer a que veio, como no vídeo em tela:
– Eu tenho assim muita, uma, uma grande alegria de tá aqui.
A presidente que não sabia falar provavelmente ouviu de um dos sábios da corte que, ao saudar uma certa categoria de pessoas, devia deixar bem claro que se referia indistintamente aos homens e às mulheres desse dado segmento, mesmo que este fosse designado por um termo comum de dois –- ou seria linchada pelas mulheres presentes. Num encontro de mancebos, endereçou-se “aos jovens homens e às jovens mulheres”. Aqui, “aos militantes e às militantes” e “aos dirigentes e às dirigentes”.
Salto no escuro
Expressões de uso popular, empregadas com naturalidade até por pessoas humildes, em sua boca sempre se adulteravam. Salto no escuro, no sentido de aposta arriscada, virava “salto mortal” – que ela repetiu umas 10 vezes numa semana, em diversas situações. “Quem quer que seja” aparecia em sua fala como “seja quem seja que faça”. “Sob pressão” ganhava duas letras intrusas, alterando-se para “sobre pressão”. Um grito de guerra do general Pompeu, bradado antes de Cristo, “Navegar é preciso, viver não é preciso”, foi por ela chamado de “um verso de Ulisses” – e não se referia ao da Odisseia grega, mas ao Guimarães, da odisseia das diretas.
Nada acertava: nomes de pessoas, de cidades, de livros, citações célebres, provérbios, passagens da história, até lugares-comuns. Números, conceitos, premissas, promessas, hipóteses, a presidente que não sabia falar deformava tudo o que dizia ou tentava dizer.
Mesmo em seu terreno de origem, a fábula infantil, era incapaz de perceber as implicações politicamente incorretas de determinadas historinhas, quando tiradas do contexto -– por muito menos, Monteiro Lobato acaba de ser conduzido postumamente à delegacia de costumes, por racismo.
Chamar três de seus principais auxiliares, em público, de “três porquinhos”, como suposto exercício de carinho e gratidão, foi a mais clamorosa falta de noção política, sociológica e psicológica da presidente que não sabia falar. É o que diferencia a ignorância, que é remediável, da sem-noção, que é irreversível. Tiririca, outro personagem das fábulas do mundo de LuLa Fontaine, é apenas ignorante.
No final de “A presidente que não sabia falar”, o autor a faz viajar para o estrangeiro – onde deixa em polvorosa seu tradutor juramentado, ao repetir, diante dos mesmos três vassalos, a história dos Três Porquinhos. O intérprete sentiu-se impedido de verter tal expressão para Three Little Pigs, francamente pejorativo quando atribuído a pessoas que comandam verbas públicas e a agenda de uma presidente. Tinha receio de ofender os três cavalheiros, mas a presidente nem percebeu e desandou a falar com o anfitrião sobre uma história lida na remota juventude, algo como “A Cabana do Pai Tomás”.
Ou seria “A banana de São Tomé”?
A história não acabaria bem para a fabulosa presidente que não sabia falar.
*Texto de Augusto Nunes

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