quinta-feira, 17 de março de 2011

As terras do petroleiro

Patrimônio de ex-sindicalista com cargo na estatal cresceu 4.000% em seis anos
Por Amaury Ribeiro Jr, no Correio Braziliense:
Ex- dirigente do sindicato da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o gerente de Recursos Humanos da Petrobras, Diego Hernandes, vive hoje, aos 51 anos, despreocupado com dinheiro. Documentos obtidos pelo Estado de Minas e Correio Braziliense em cartórios e órgãos públicos de São Paulo mostram que o patrimônio de Hernandes, que até o início da década tomava o trem superlotado para fazer piquetes nas portas de refinarias no interior paulista, aumentou em cerca de 4.000% em seis anos.
De acordo com a papelada, desde 2003, quando passou a ocupar cargos estratégicos na estatal, Hernandes comprou 680 hectares de terras no município de Jales, região noroeste de São Paulo. Avaliadas pelos funcionários de cartórios e corretores da região pelo preço mínimo de R$ 11 milhões, as dezenas de propriedades rurais foram anexadas em uma única propriedade: a Fazenda São Lucas. Localizada a cerca de 10 quilômetros de Jales, a propriedade é cortada es trategicamente pela Estrada do Boi, que liga a cidade a Araçatuba. Arrendada a usineiros, as terras do ex-sindicalista estão tomadas de canaviais.
A incursão imobiliária do ex-sindicalista — que após ocupar o cargo de chefe de gabinete do ex-presidente da Petrobras Eduardo Dutra mudou-se para apartamento na Zona Sul do Rio — também se expandiu para a área urbana. Além de comprar três terrenos na região central de Jales, avaliados em R$ 150 mil cada, Hernandes fundou em 2003, em companhia de um grupo de primos da região do ABC Paulista, uma empresa de equipamentos médicos, a Implalife Produtos Odontológicos. Construída em terreno de 6 mil metros quadrados doado pela prefeitura de Jales, administrada pelo PT, o prédio, decorado com vidros brilhantes em uma das principais avenidas do município, está avaliado em R$ 1 milhão.
Hernandes teve ainda fôlego para investir R$ 300 mil na sede da Fazenda São Lucas e R$ 400 mil em fundos de renda fixa do Banco do Brasil. Com base nisso, o patrimônio de Hernandes chega hoje, no mínimo, a R$ 13 milhões, bem distantes dos cerca de R$ 300 mil em bens que o sindicalista possuía em 2002, um ano antes de ocupar cargos estratégicos na estatal.
Embora tenha adquirido esse amontoado de imóveis, Hernandes declarou à Receita Federal no ano passado possuir patrimônio de R$ 1,4 milhão. Documentos e depoimentos mostram que, a fim de esconder o patrimônio, o ex-sindicalista registra os imóveis com valores abaixo dos de mercado. Além disso, coloca parte das fazendas e imóveis urbanos em nome dos irmãos Walter Hernandes e Manoel Hernandes, pequenos sitiantes de Jales que até pouco tempo ganhavam a vida como camelôs. Manoel morreu no início deste ano, vítima de câncer. De acordo com corretores e funcionários de cartório, Manoel, antes de morrer, procurou um advogado para fazer um inventário transferindo as terras ao irmão Diego, que já era de f ato o dono dos terrenos.

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