quarta-feira, 25 de maio de 2011

Investigação em Campinas chega ao entorno de Lula e deixa PT apreensivo.

José Carlos Bumlai, empresário amigo do   ex-presidente, é um dos focos da apuração sobre suposto esquema de propina   envolvendo empresa de água e esgoto; interceptação telefônica revelou intenção   do pecuarista de negociar delação premiada e proteger petista.Fausto Macedo - O Estado de S.Paulo:
Relatório de 408 páginas sobre suposto esquema de corrupção e mensalinho na   Prefeitura de Campinas (SP) agita o PT. O documento feito por quatro   promotores do Gaeco, núcleo do Ministério Público que combate o crime   organizado, sustenta ordem judicial de prisão contra 20 suspeitos - entre eles   o vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT), foragido desde sexta feira -, e cita   como alvo da investigação o pecuarista e empresário José Carlos Bumlai, amigo   do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem é anfitrião em   momentos de lazer.
Apontado como elo da empreiteira Constran com diretores   da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A (Sanasa), empresa   responsável pelo planejamento, execução e operação dos serviços de água e   esgoto da cidade, Bumlai teria admitido a possibilidade de fazer delação   premiada para "proteger Lula". O advogado de Bumlai, Mário Sérgio Duarte   Garcia, nega taxativamente ligação do empresário com propinas em Campinas. "É   uma acusação criminosa."
Lula é próximo também do prefeito Hélio de   Oliveira Santos, o Dr. Hélio (PDT), seu aliado nas campanhas de 2002 e 2006 e   apoiador de Dilma Rousseff em 2010. A mulher do prefeito, Rosely Nassim, está   na mira da promotoria. A investigação a coloca no topo da suposta organização   criminosa. A primeira-dama, chefe de gabinete do marido, não foi presa porque   um habeas corpus a livrou liminarmente de "medida coercitiva".
O nome de   Bumlai é mencionado na interceptação telefônica de um diálogo entre um   advogado e Luiz Augusto Castrillon de Aquino, ex-diretor-presidente da Sanasa,   foco do desvio de verba em Campinas, segundo a promotoria. À página 271, o   relatório destaca que, em 26 de abril, Aquino conversa com o advogado após   reunião com um homem chamado de Ítalo Barione.
"De acordo com Luiz Aquino,   Ítalo Barione estaria colhendo informações, a pedido do próprio José Carlos   Bumlai, para viabilizar a formalização, junto ao Ministério Público, de   delação premiada em favor dele", informa o documento. "Aquino relata que   Bumlai teria intenção de proteger Lula." Um resumo da conversa, nos autos da   promotoria: "Aquino diz que Bumlai quer fazer acordo e "o que ele puder fazer   para proteger Lula, tudo bem"".
Pertinência. Para os promotores, "o teor do   diálogo é totalmente pertinente". Eles falam das relações de Bumlai e Lula. "O   empresário talvez tivesse a preocupação de não propiciar uma exposição   negativa em razão da amizade de ambos."
A delação premiada não ocorreu.   Bumlai não depôs no inquérito. Segundo o relatório, "informações apontam que a   participação de Bumlai no esquema investigado extrapola a simples   representação dos interesses da Constran junto ao grupo de Rosely Nassim e o   correlato repasse de porcentuais do contrato mantido com a Sanasa".
"Já há   informações no sentido de que Bumlai teria participação ainda mais direta no   esquema de corrupção, inclusive com possível ascendência sobre Rosely Nassim",   diz o texto. "Resta aferir é se a aventada intenção de Bumlai de formalizar   uma delação premiada se deve apenas à sua participação no repasse de   porcentuais do contrato da Constran ou se ele ocupa alguma outra função mais   específica dentro do esquema criminoso investigado."
Mensalinho. A base da   investigação que alvoroça o PT são os depoimentos de Aquino, que presidiu a   Sanasa de janeiro de 2005 a julho de 2008. Ele fez delação premiada, em dois   extensos depoimentos. Detalhou o mensalinho. Servidores recebiam parcelas   fixas na divisão dos porcentuais de propinas. Aquino disse ter sido   "coordenador estratégico da campanha de Dr. Hélio em 2004, da qual "Bumlai   participou ativamente".
"No início do primeiro mandato, o prefeito nomeou a   mulher chefe de gabinete, tendo ela assumido amplos poderes na gestão", disse   Aquino. "Rosely decidiu montar esquema de arrecadação financeira clandestina   na administração. Ou ingressava no esquema e propiciava a arrecadação ilícita   de fundos ou era tirado do cargo que ocupava. Ela controlava praticamente   todos os setores da administração."
Segundo Aquino, a primeira-dama   "estabelecia metas anuais". "A arrecadação dos valores referentes aos   contratos de prestação de serviços ficaria a meu cargo. A arrecadação dos   contratos de obras ficaria a cargo de Aurélio Cance Júnior, diretor técnico."   Cance Júnior está preso. Aquino citou oito contratos. "Os porcentuais (da   propina) variavam de 5% a 7% sobre o valor da obra."

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