sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A queda do Real: Queda da moeda brasileira em novembro foi a maior entre 168 moedas analisadas no mês.

A depreciação do real corrói o retorno dos ativos de renda fixa
Nova York/São Paulo - O real é a moeda com o pior desempenho no mundo em novembro com a desaceleração da economia mundial reduzindo os investimentos externos para o Brasil e os cortes na taxa básica de juros afetando a atratividade dos ativos de renda fixa do País.
O real teve queda de 7 por cento frente ao dólar este mês, a maior entre as 168 moedas acompanhadas pela Bloomberg. O euro caiu 3,7 por cento.
O Banco Central, liderado por Alexandre Tombini, cortou o juro básico duas vezes desde agosto como parte dos esforços das nações em desenvolvimento para proteger suas economias do agravamento da crise europeia. O Brasil registrou US$ 1,2 bilhão em entrada líquida de dólares via investimentos e comércio no mês até 18 de novembro, comparado a uma média de US$ 6,8 bilhões nos 10 meses anteriores, de acordo com dados do BC.
“Novembro foi outro mês de escalada da aversão ao risco”, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB SA, em entrevista por telefone de São Paulo. Quando há uma reversão do fluxo, isso acaba por ter um impacto no real, segundo ele.
Em 24 de novembro, o dólar passou de R$ 1,90 pela primeira vez em quase dois meses. Ontem, a moeda caiu para R$ 1,8454, limitando a queda do real este ano para 10 por cento.
A depreciação da moeda brasileira corrói o retorno dos ativos de renda fixa, mesmo com o rendimento médio dos títulos brasileiros tendo caído 53 pontos-base, para 10,31 por cento, de acordo com dados compilados pelo JPMorgan Chase & Co. Os títulos denominados em reais perderam 6,8 por cento em dólares em novembro, mais do que a queda média de 5,8 por cento das dívidas em moedas locais de mercados emergentes, segundo o JPMorgan.
Cenário de juros
Todas as moedas de mercados emergentes registraram perdas em relação ao dólar, com o agravamento da crise de dívida na Europa levando à diminuição dos investimentos em ativos de países em desenvolvimento. Mais de US$ 3,5 trilhões deixaram as bolsas globais este mês, à medida que os rendimentos da dívida pública de Itália e Espanha chegaram aos maiores níveis desde a adoção do euro.
O Comitê de Política Monetária do BC deve reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual para 11 por cento em sua reunião de hoje e para 9,5 por cento até maio, segundo os negócios com contratos futuros.
Um representante do BC, que pediu para não ser identificado em obediência à política interna, se recusou a fazer comentários para esta reportagem.
‘Tempestade perfeita’
“É uma tempestade perfeita”, disse Diego Donadio, estrategista para América Latina do BNP Paribas Brasil SA, em São Paulo. “Os participantes do mercado estão esperando um ciclo de alívio maior. Isso tende a ter impacto no câmbio.”
O ex-diretor do BC, Paulo Vieira da Cunha, disse que a depreciação do real está em linha com outros ativos de alto rendimento e que a moeda vai se recuperar se o sentimento do mercado melhorar.
“Os fundamentos não mudaram”, disse Vieira da Cunha, que hoje é sócio do fundo de hedge Tandem Global Partners LLC, de Nova York.
A queda do real também foi exacerbada pela cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras em derivativos cambiais e investimentos estrangeiros em renda fixa, disse Rostagno, do WestLB.
Em outubro de 2010, o governo triplicou para 6 por cento o IOF sobre investimentos estrangeiros em renda fixa para conter a disparada do real. Em julho, foi aplicada alíquota de 1 por cento sobre derivativos cambiais depois de a taxa de câmbio ter chegado a R$ 1,529, o maior nível para o real em 12 anos.
“Isso, por si só, já favoreceria o enfraquecimento do real,” disse Rostagno. “O que diferencia o real são as medidas do governo, como a taxação de derivativos de câmbio, que continuam valendo. Isso acaba aprofundando a desvalorização do real”.
*Texto por Marcelo Calenda/EXAME.com

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