quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Comunidade judaica argentina rejeita acordo com Irã por atentado de 1994.

Ataque antissemita que deixou 85 mortos será investigado por comissão independente.

Comunidade judaica argentina rejeita acordo com Irã por atentado de 1994 Ali BURAFI/AFP
Bombeiros e policiais fazem rescaldo na Associação Mutual Israelense Argentina em 1994Foto: Ali BURAFI / AFP
A comunidade judaica argentina, a maior da América Latina, rejeitou nesta segunda-feira o acordo firmado entre a Argentina e o Irã para formar uma comissão da verdade pelo atentado antissemita contra a sociedade mutual AMIA em 1994, que deixou 85 mortos.

A Argentina acusa o Irã de ser o autor intelectual do atentado, o que Teerã nega veementemente.

— A formação de uma 'Comissão da Verdade', que não é reconhecida pelas leis argentinas que regulam o processo penal, implicaria em um declínio de nossa soberania — informaram a AMIA e a DAIA, as duas maiores representações dessa comunidade na Argentina.

A Argentina assinou no domingo um acordo com o Irã na Etiópia com o objetivo de criar uma comissão independente para investigar o atentado a bomba de 1994, em Buenos Aires, contra o centro judaico AMIA (Associação Mutual Israelense Argentina), pelo qual havia pedido a extradição de oito iranianos.

Israel reagiu ao acordo nesta segunda-feira com "surpresa" e "decepção", enquanto os Estados Unidos adotaram uma postura mais cautelosa, ressaltando que irão aguardar os resultados do trabalho da comissão independente.

— Sempre quisemos que os autores do atentado fossem julgados. Se o governo argentino pensa que isto vai nos aproximar disso, bom, vamos esperar — disse a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, em coletiva de imprensa.

A chancelaria israelense afirmou em um comunicado que o embaixador argentino será convocado "para que forneça explicações sobre a iniciativa de seu governo".

Em seu pronunciamento contra o acordo, as entidades judaicas locais indicaram que "ignorar tudo o que foi feito pela justiça argentina e substituir isso por uma comissão que, no melhor dos casos, emitirá sem prazo definido uma 'recomendação' às partes, constitui, sem dúvida, um retrocesso no objetivo comum de obter justiça".

Segundo o acordo firmado no domingo em Addis Abeba pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, e seu colega iraniano, Ali Salehi, os iranianos acusados poderão ser interrogados em Teerã pelo promotor e juiz encarregado do caso na Argentina.

Buenos Aires exige desde 2006 a extradição de oito iranianos pelo atentado contra a AMIA, entre eles o atual ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, o ex-presidente Ali Rafsanjani (1989-1997) e o ex-chanceler Ali Akbar Velayati, todos eles com mandado de busca internacional emitido pela Interpol.

A AMIA, que reúne instituições da comunidade judaica, e a DAIA (Delegação de Associações Israelitas da Argentina), seu braço político, lembraram que a Interpol, depois das apresentações realizadas pelos promotores argentinos do processo, resolveu que "as provas eram suficientes e aptas para requerer as prisões".

A Comissão da Verdade será integrada por juristas independentes que não poderão ser cidadãos de nenhum dos dois países.

— Qualquer Comissão que seja criada não pode ter outra função que a de controlar ou fiscalizar a legalidade dos inquéritos — reagiram a AMIA e a DAIA sobre o acordo entre Buenos Aires e Teerã, que deve ser aprovado por ambos os Congressos.

Argentina e Irã iniciaram em outubro negociações na sede das Nações Unidas em Genebra para resolver as ações judiciais pendentes na investigação do atentado.

O governo iraniano nega qualquer participação no atentado e rejeitou as acusações de terrorismo contra seus oito cidadãos requeridos, negando-se a cumprir as ordens de captura emitidas pela Interpol, o que manteve o processo judicial paralisado por anos e sem detidos.

A comunidade judaica da Argentina é a mais numerosa da América Latina com 300 mil pessoas.

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