quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Modelo econômico da China apresenta sérias rachaduras.


A economia chinesa está patinando e, para se constatar como pode ser difícil para o país salvar seu antes tão louvado modelo econômico, basta considerar a zona industrial de Caofeidian, onde um projeto de US$ 91 bilhões está atolado em dívidas e promessas não cumpridas.
A siderúrgica instalada no coração de Caofeidian, que fica nos arredores da cidade de Tangshan, a uns 220 quilômetros de Pequim, está no vermelho.
Foto:Gilles Sabrie

Perto dali, um conjunto de edifícios de escritórios que devia ser concluído em 2010 hoje não passa de um emaranhado de estruturas de aço e obras inacabadas. A construção de um complexo residencial foi interrompida no Natal, depois que os operários terminaram as estruturas de concreto. Há ainda o projeto de uma ponte com seis pistas, abandonado depois que 10 postes de apoio foram erguidos.
"Basta olhar em volta para ver como as coisas estão indo", disse Zhao Jianjun, operário de uma fábrica que há meses não está produzindo seus tubos de plástico reforçado com aço, apontando para prédios vazios.
Chen Gong, presidente da Beijing Anbound Information, centro de estudos de Pequim, diz que Caofeidian traz à tona as falhas do modelo chinês de crescimento econômico, no qual o governo faz os planos de investimentos e as empresas devem segui-los, quaisquer que sejam as condições de mercado. Os governos regionais e municipais são "movidos pela corrida cega atrás do PIB", disse Chen.
O consenso entre os analistas é que a segunda maior economia do mundo vai desacelerar durante o restante de 2013 e não deve melhorar muito no próximo ano. Apesar disso, o governo ainda mantém sua meta de crescimento de 7,5% do PIB para 2013, menos que os 7,8% do ano passado e os 9,3% de 2011.
O mais recente sinal de desaceleração veio ontem, quando um indicador preliminar da atividade industrial chinesa caiu em julho para o ponto mais baixo em 11 meses, enquanto a submedida desse índice para o emprego caiu para o nível mais baixo desde a crise financeira global.
O primeiro-ministro Li Keqiang disse que vai pressionar para evitar que o crescimento do PIB se desacelere muito este ano. Mas ele já descartou a possibilidade de um grande plano de estímulo, e disse que a China precisa reformular seu modelo econômico de modo a depender menos dos investimentos e mais do consumo interno e do setor de serviços.
Ainda assim, alguns economistas, empresários e autoridades regionais estão pedindo um grande plano de estímulo econômico, semelhante ao lançado em resposta à crise financeira. Mas a farra de gastos e empréstimos na época, embora tenha dado apoio à economia, contribuiu para os problemas atuais do país.
Para impulsionar o crescimento, os líderes chineses se voltaram para os investimentos alimentados pelo crédito, depois que a demanda pelas exportações despencou, na esteira da crise de 2008. A participação do investimento no PIB subiu de 41,6% em 2007 para 48,1% em 2012, com as prefeituras construindo estradas e aeroportos, as imobiliárias lançando uma série desenfreada de prédios de apartamentos de luxo e as empresas estatais ampliando suas fábricas e fundições.
Sem dúvida, essas atividades impulsionaram o crescimento. Mas ao comprimir em poucos anos o que normalmente seria uma década de investimentos, a China apressou o fim da sua fase de crescimento rápido. Muitos projetos foram duplicados, dizem os economistas, acabando por criar excesso de oferta em todos os setores, da habitação ao aço, cimento e equipamentos de energia solar. A tendência de investir em projetos de grande escala e alto prestígio, embora redundantes, também consumiu empréstimos bancários que poderiam ser melhor utilizados para financiar pequenas empresas e firmas de serviços necessitadas de caixa.


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Desde o início dos anos 90, o retorno total sobre o investimento no país caiu em cerca de um terço, segundo o FMI. E cada yuan emprestado no país agora produz apenas um terço do retorno em termos de crescimento econômico do que ocorria antes de 2009, segundo a Fitch Ratings Inc.
Ainda assim, o endividamento relativamente baixo do governo, que o FMI recentemente estimou em 45% do PIB, significa que a China ainda tem espaço para aguentar uma queda acentuada no crescimento ou sustentar o sistema financeiro, se necessário. Mas para evitar os erros cometidos depois de 2008, Pequim terá que descobrir como direcionar seu dinheiro para áreas subfinanciadas da economia de modo a gerar um retorno a longo prazo.
Apoiar ainda mais os empréstimos para pagar por mais investimentos — o remédio tradicional de Pequim para reforçar o crescimento — não funciona mais, dizem economistas. Quando o crédito cresce ao dobro do ritmo do PIB, como tem ocorrido recentemente, disse Chu, analista da Fitch, "matematicamente, não há jeito de fazer o país crescer".
Zhang Danping, um porta-voz do governo regional de Caofeidian, disse que embora alguns projetos tenham sido interrompidos durante o inverno, todos já foram retomados, avaliação que os operários nas obras locais pareciam não compartilhar.
*Por Dinny Mcmahom (Colaborou Liyan Qi)

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