sábado, 30 de novembro de 2013

A Venezuela vai ao coração do "Império" em busca de dólares por ouro.

O país vive hoje do consumo de suas reservas em moeda forte e ouro uma vez que a sua produção já é inferior à sua demanda.

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A Goldman Sachs está em conversações com o governo de Caracas para conseguir um intercâmbio de reservas de ouro por dólares. Jin Lee/Bloomberg

Segundo a emissora novaiorquina Bloomberg News, a financeira ianque Goldman Sachs e o Bank of America estão entre as empresas de Wall Street que se ofereceram para ajudar a Venezuela a obter dólares em função do esgotamento das reservas internacionais provocado pela má gestão econômica do regime socialista bolivariano do país sulamericano.

Acenado com a possibilidade de uma operação de swap, proposta pela Goldman Sachs, o governo de Maduro levantaria 1,68 bilhão de dólares em espécie e a operação estaria respaldada por 1,85 bilhão das reservas de ouro do banco central venezuelano, conforme documentos obtidos pela Bloomberg News. O Bank of America disse que poderá ser o intermediário para outorgar 3 bilhões de dólares em pagamentos a empresas que buscam dólares, como mostram os documentos. Nenhuma das duas operações foi concluída, disse um funcionário do governo de Caracas com conhecimento direto do assunto e que pediu para permanecer no anonimato porque as conversações são privadas.

Os dólares estão se escasseando na Venezuela, que limita o fornecimento da moeda e Consequentemente dos produtos de consumo, que vão desde medicamentos a papel higiênico, num país que importa cerca de três quartas partes dos bens que consome. Pelo fato de o país manter cerca de 70 por cento de suas reservas em ouro e o preço do metal ter caído algo em torno de 26 por cento nos últimos nove anos, as reservas internacionais em moeda forte caíram 28 por cento este ano chegando neste mês ao nível de 20,7 bilhões de dólares, seu nível mais baixo na década.

O economista Robert Abad, que ajuda a supervisionar uma dívida de 53 bilhões de dólares com mercados emergentes pelo seu escritório da empresa Western Asset Management Co., disse que “o fato de haver escassez de dólares é sintomático de una economia que está no fundo do poço, completamente quebrada”, numa conversa telefônica na terça feira de anteontem falando de Pasadena, na Califórnia. “Isto é algo que é incrivelmente desnecessário, muito infeliz, e que vitima a economia real, de pessoas de verdade”.
CÂMBIO – O retorno total da operação da Goldman Sachs, conhecida como “total return swap”, poderá render juros de 7,5 por cento acima da taxa Libor de três meses, para un total de 818 milhões de dólares em custos de financiamento estimados em sete anos, como mostram os documentos. A operação permitiria a Venezuela manter sua participação no mercado do ouro, com o país se obrigando a depositar o metal precioso ou efetivo correspondente numa conta marginal caso o preço baixe, e a Goldman Sachs abastecendo mais dólares caso o preço suba. “Esta é a clássica estória não transparente dos mercados emergentes”, disse Abad ao se referir à possibilidade da Venezuela buscar monetarizar suas reservas em ouro. “Tem-se que usar a dedução para se tentar estimar até onde as coisas vão”.

            O falecido presidente Hugo Chávez apostou no ouro para a Venezuela num esforço para se safar do que chamava de “ditadura do dólar”, mas se deu mal. Desde 1999, o primeiro ano de Chávez no poder, até 2012, a Venezuela comprou 75,3 toneladas métricas de ouro, de acordo com dados do website do FMI - Fundo Monetário Internacional. Essas compras custaram 1 bilhão de dólares com base nos preços médios do ouro e estarão valorizadas em 3,03 bilhões de dólares ao preço de hoje (1.251,96 dólares por onça), dando um lucro de 2,03 bilhões. O país também vendeu 13,1 toneladas de lingotes de ouro durante esse período, segundo os dados do FMI.
OURO, DÓLAR E PETRÓLEO - As reservas de ouro da Venezuela totalizam 367,6 toneladas métricas do metal, o que equivale à décima quarta maior posição de um país, conforme o Conselho Mundial do Ouro, com sede em Londres. O ouro representa 70 por cento das reservas internacionais do país, comparado com 7,6 por cento da Argentina e menos de 1 por cento do Brasil.

            “É o nosso ouro”, berrava Chávez, o socialista que estatizou centenas de empresas e impôs limites às transações em moeda estrangeira no país, numa mensagem pela TV estatal em novembro de 2011. “É a reserva econômica de nossas crianças. Está crescendo e vai continuar crescendo, tanto o oro como as reservas em moedas”.

            A instituição que controla as transações em moeda estrangeira na Venezuela, conhecida como CADIVI, vende dólares à taxa oficial de 6,3 bolívares, muito embora, no câmbio negro ou paralelo a moeda americana tem sido vendida a uma média de 60 bolívares. O governo, que desvalorizou o bolívar em 32 por cento em fevereiro, não conseguiu deter a que da cotização  no mercado negro, onde empresas e pessoas “não autorizadas a usar a taxa oficial” são obrigadas a pagara quase dez vezes mais pelo dólar.

            Com isso, o CADVI tem atrasado os pagamentos às empresas e no entanto tem que ‘distribuir’ algo em torno de 8,2 bilhões de dólares que já foram autorizados, segundo informações cedidas por Asdrúbal Oliveros, diretor da consultoria ECOANALÍTICA, numa entrevista telefônica de Caracas.

            O presidente Nicolás Maduro, que sucedeu Chávez, utilizou este mês os militares para ordenar as lojas que reduzissem os preços “na marra” depois que a inflação anual acelerou e chegou a 54 por cento em outubro, a taxa mais alta em 16 anos e a de crescimento mais rápido do mundo. O mandatário, um pelego sindical e ex-motorista de ônibus, obteve em 19 de novembro a autorização do Congresso para formular leis em matéria econômica mediante decretos executivos, a chamada “lei habilitante”.
            Os preços médios das exportações venezuelanas de petróleo cru, responsáveis por 95 por cento da arrecadação do país em moeda estrangeira forte, caíram este mês ao nível mais baixo em 16 meses e terminaram na semana passada em $93,98 dólares por barril. Cada queda de 1 dólar no preço do barril custa à Venezuela algo em torno de 700 milhões de dólares por ano, segundo avaliações da estatal Petróleos de Venezuela SA. (PDVSA)
            O total da dívida venezuelana, no entanto, caiu 7,7 por cento este mês ao passo que os custos de financiamento atingiram seu maior ápice em 22 meses e foi da ordem de 14,56 por cento, conforme os relatórios da JPMorgan Chase & Co.

            A compensação adicional que os investidores exigem para terem bônus venezuelanos ao invés de bônus do Tesouro dos Estados Unidos, subiu a 11,68 pontos este mês, a maior dos mercados emergentes, segundo a JPMorgan. A PDVSA vendeu este mês 4,5 bilhões de novos bônus numa colocação privada aos provedores do banco central e serviços petroleiros. Esta foi a primeira venda feita pela entidade desde maio de 2012.
* Por FRANCISCO VIANNA, via Grupo Resistência Democrática.

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