domingo, 17 de agosto de 2014

O crescente ensanguentado.

Os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e Síria (ISIS – de “Islamic State of Irak and Syria”) lançaram a maior perseguição “religiosa” aberta e ostensiva dos últimos 50 anos no Oriente Médio, com parte no nordeste da Síria e no norte do Iraque, a que chamam de “Crescente”. Seu inimigos e alvos de genocídio, são todos os que não são muçulmanos e mesmo entre os que são, os que não aceitam a Lei Shaaria.
Lider religioso fundamentalista do ISIS e soldado do exército iraquiano em combate ao ISIS. 
O grupo é franqueado da Al Qaeda e formado por lavados cerebrais para “matar a todos os infiéis” que não queiram ser “convertidos” à sua ideologia radical político-religiosa.   
Na medida em que vão se apoderando de vastas regiões semidesérticas de ambos os lados da fronteira entre a Síria e o Iraque e se aproxima da fronteira entre o Iraque e o Irã – uma extensa faixa de terra em forma de crescente, por isso mesmo denominada por eles de “crescente islâmico”, em alusão também ao símbolo  telúrico do islamismo que é o da lua nova –, os jihadistas do ISIS vão deixando em sua passagem um rastro de morte, terror e devastação, com sua obsessão de uma ‘guerra santa’, que já se constitui na maior perseguição político-religiosa dos últimos 50 anos no Oriente Médio.
Todos a quem encontram pela frente, sejam cristãos, turcos, yasidis, chabaques, sírios alauítas, curdos, xiitas, e até sunitas que se negam a se submeter ao autoproclamado “califado islâmico de Abu Bakr al-Baghdadi”, são perseguidos, despojados, desterrados, torturados ou, na maioria dos casos, friamente assassinados.
Não se trata de “limpeza étnica”, mas político-religiosa naquilo que chamam de “uma nova era” e, nesta semana, prosseguiu com seus sinistros objetivos quando o bando se apoderou das cidades de Karakoch, a cidade cristã mais importante do Iraque, e Sinjar, ambas no noroeste do Iraque. Sinjar é um é uma cunha de pelo menos 200.000 dos 700.000 yazidis que existem no mundo, um povo curdo não muçulmano, monoteísta e de formação religiosa do zoroastrismo (Zaratustra).
Por isso, o ódio do ISIS pelos yazidis nunca foi secreto e sempre muito divulgado e temido. Vez por outra, essa organização terrorista faz circular vídeos nas redes sociais mostrando membros dessa minoria aprisionados por eles e mantidos em minúsculas celas custodiadas por seus carcereiros. Em suas campanhas de propaganda político-religiosa, os fanáticos islamitas do ISIS sempre deixaram muito clara a sua intenção exterminar ou escravizar os adeptos dessa antiquíssima religião, a quem qualificam de "adoradores de Satanás".
Aterrorizados, muitos yazidis de Sinjar fugiram nesta semana para os campos de refugiados do Curdistão iraquiano. Outras 30.000 famílias se espaventaram montanhas acima onde, isoladas e rodeadas por esses jihadistas, dormem em buracos, suportando temperaturas de até 50° centígrados, e com muito pouca água e alimentos para sobreviverem. Os EUA tem distribuído, nos últimos dias água potável, remédios e alimentos como ajuda humanitária e, ao que parece, a União Europeia e os EUA vão começar a armar essas populações para que possam se defender.
Na noite ontem, o ISIS se apoderou da cidade de Karakoch sem qualquer resistência, uma vez que a população de há muito fora desarmada pelo regime de Saddam Hussein: os ‘peshmergas’ curdos que a defendiam simplesmente a abandonaram. O ISIS ocupou igrejas, destruiu cruzes e manuscritos, provocando um novo êxodo que deslocou 100.000 pessoas, na sua maioria de cristãos, que agora deambulam pelos caminhos e estradas sem sequer saber aonde ir.
Sinjar e Karakoch são a prova mais recente da brutalidade que caracteriza um Estado Islâmico, que no caso do ISIS viola os mais elementares direito da pessoa humana, em pleno século XXI, e que, durante os últimos dois meses, não apenas executou de forma sumária um sem número de xiitas, majoritários no Iraque, como também centenas de sunitas que – muito embora pertencentes à mesma confissão religiosa do ISIS, se recusam a abraçar seu fanatismo político-religioso.
Ontem, os primeiros iraquianos que receberam “vistos de asilados” do governo francês chegaram a Paris. Tais vistos estão sendo concedidos a conta gotas, como ‘autorizações excepcionais’ de residência e foram instituídas pelo presidente socialista François Hollande, depois que os jihadistas tomaram a cidade de Mosul, onde também viviam milhares de cristãos.
A França também anunciou que vai ajudar as autoridades da região curda do Iraque a deter o avanço do radicalismo islâmico do ISIS. Entrementes, os EUA considera intensificar os ataques aéreos que vêm realizando contra os membros desse grupo no norte do Iraque.
Como em situações anteriores, o ISIS instou os cristãos de Mosul a se converterem ao islã, ou abandonar seus pertences e casas, e partir e ainda pagar o “imposto” aplicado a cada uma das religiões consideradas "idólatras" e “infiéis”. Era obedecer ou ser executado.
Os cristãos do Iraque são a minoria religiosa mais castigada pelo terrorismo fanático do ISIS. No entanto, todas as comunidades religiosas que constituem o amplo mosaico de crenças no Iraque estão ameaçadas.
Tal é o caso dos chabaques, um grupo de cerca de 300.000 membros que praticam um antigo culto pré-islâmico, que guarda algum parentesco com o xiismo. Os ‘turcomanos’, terceiro grupo étnico e religioso em importância no país e majoritariamente sunita, são acusados pelo ISIS de perjuros, por manterem um comportamento social fundamentalmente secular.
Desde que começou a sua sinistra aventura "redentora", o ISIS tem agido com total impunidade, pelo fato de a comunidade internacional não reagir ou mover uma palha sequer para que possa ser impedido e sofra as punições por seus crimes contra a humanidade.
Em face dessa passividade internacional e da incapacidade do governo de Bagdá de sair em defesa de suas vítimas, o ISIS já controla hoje um território maior que o da Grã Bretanha, de centenas de milhões de dólares em armamento fabricado nos Estados Unidos, e já subjugou cerca de seis milhões de pessoas.
Na noite de hoje, em função das decisões tomadas pela França e pelos Estados Unidos da América, a situação ao que parece, poderá mudar ‘radicalmente’ para essa horda de terroristas islâmicos.
*FRANCISCO VIANNA (da mídia internacional)

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