sábado, 31 de janeiro de 2015

China aumenta exportação e rouba o mercado do Brasil na América do Sul.

Participação das exportações chinesas na região passou de 6%, em 2003, para 18% em 2013. Já a do Brasil, caiu de 14% para 11%.

São Paulo - Apesar da desaceleração de seu crescimento, a China continua exportando muito e vem ampliando sua participação no mercado internacional às custas da queda da participação de seus concorrentes nos mercados mundiais. E o Brasil não está imune a esse movimento. Entre os países da América do Sul — sem contar Venezuela e Uruguai — a participação da China nas importações da região triplicou em pouco mais de dez anos: passou de 6% (média 2002/2003) para 18% em 2013, ao passo que a do Brasil caiu de 14% para 11% no mesmo período. Os dados são da nova edição da revista “Conjuntura Econômica” do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre). 

Segundo a professora Lia Baker Valls Pereira, autora do artigo, a participação da China nas perdas enfrentadas pelo Brasil na região aumentou especialmente em setores de alta tecnologia. Isso sugere que o país permanece competitivo em produtos primários, mas perde muito quando o assunto são os manufaturados. “A escalada da China para produtos de maior conteúdo tecnológico tende a dificultar a diversificação da pauta brasileira em direção a setores de maior valor adicionado na região”, aponta a professora. 

De acordo com o especialista em comércio exterior José Roberto Cunha, do Programa de Comércio Exterior Brasileiro da Fundação Instituto de Administração (Proceb/FIA), teoricamente o Brasil teria mais vantagem em relação à China para vender manufaturados na América Latina, tanto pelos acordos comerciais que possui, quanto pela proximidade geográfica e cultural. 

“Ocorre que o comércio internacional não possui mais fronteiras e os empreendedores conseguem fazer praticamente tudo online: falar com fornecedores, negociar pagamentos e facilitar a ida de possíveis parceiros a feiras na Ásia para apresentar produtos. Esses fatores, aliados ao custo de produção e ao preço final da mercadoria chinesa, mantém os asiáticos mais competitivos”, diz Cunha. 
O resultado é que da perda calculada de 22% de participação das exportações brasileiras para os países da América do Sul entre 2008 e 2013, 34% estariam ligados diretamente ao aumento da participação da China na região. Chama atenção, inclusive, o crescimento da presença chinesa na Argentina, principal parceiro do Brasil na região: passou de 6% em 2003 para 18% em 2013. 
Para o advogado Eduardo Ribeiro Augusto, sócio do setor de Propriedade Intelectual da Siqueira Castro Advogados, cada vez mais esse ganho de mercado da China deixa de ser por preço e passa pela qualidade. Segundo Augusto, em 2012, o escritório de propriedade intelectual da China — semelhante ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) foi o que mais recebeu pedidos de patentes no mundo: 652 mil pedidos, 24% mais do que em 2011. Já o Brasil, que ocupa o 10º lugar no ranking, recebeu 30 mil pedidos. 
“Esses números dão uma outra dimensão do motivo de a China ganhar cada vez mais espaço no comércio mundial. A inovação é um grande atalho para conseguir novos mercados. Quanto mais se inova, mais facilidade se tem de encontrar e conseguir novos mercados”, afirma o advogado.

Como se preparar para enfrentar o gigante chinês 
Para a professora Lia Baker, enfrentar essa concorrência chinesa — que abarca desde produtos tradicionais de baixo conteúdo tecnológico até os de maior sofisticação tecnológica, passa pelo aumento da produtividade dos produtos industriais brasileiros, melhora na infraestrutura que reduza os custos de logística e investimentos em tecnologia. “Em suma, a agenda de competitividade das exportações”, sintetiza. 
O professor José Roberto Cunha complementa que é preciso um novo modelo de desenvolvimento e de internacionalização que coloque o Brasil em patamares semelhantes dos asiáticos, como China, mas também a Coreia e o Japão. 
“Mas o país pensa muito no curto prazo. E isso não é prerrogativa dos governos, passa pelos empresários e até pelos estudantes nas universidades. Precisamos mudar essa visão imediatista. Claro que é importante pensar na redução do déficit público e no controle da inflação. Mas, paralelamente, é preciso se dedicar a tornar o país mais competitivo. E isso não se muda em dois anos”, conclui.

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